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domingo, 17 de abril de 2011

Encarnação


          O livro foi publicado em 1877, depois que o autor, José de Alencar, já havia falecido, portanto, esse é o último romance urbano do escritor brasileiro. Encarnação foi escrito para ser publicado em jornais, nos famosos folhetins. Isso pode ser percebido no final de cada capítulo, pois terminam com um suspense, uma forma de incentivar as pessoas a comprarem o próximo jornal para saberem a continuação da história, que é marcada pela encarnação da morte, já que Hermano não deixa que a memória da falecida esposa se apague, mantendo-a de certa forma viva, e a idealização do amor, tanto que Amália tenta se transformar na “mulher perfeita”, que no caso seria como Julieta.

Personagens principais

          Amália - É uma bela jovem de cabelos loiros. Adora festas e encontros sociais, canta e toca piano muito bem, é alegre e muito querida pelos pais. Ela é cortejada pelos melhores moços da sociedade, mas não os leva a sério, por não acreditar no amor. Sabe que terá que se casar um dia, ter sua casa, marido e filhos, mas encara isso como uma obrigação, apesar de não ter nada contra o casamento, pelo contrário, acredita que ele é a solução para a mulher que já não vive a mocidade.

          Hermano - É um homem de 30 anos, reservado, esquisito, viúvo de Julieta, com quem foi muito feliz. As portas de sua casa estão sempre fechadas e ele vai pouco à cidade. Mantém a memória da falecida esposa viva, como se ela ainda existisse a seu lado, como uma espécie de obsessão e loucura. Mas ele não era assim quando jovem, pelo contrário, era “um dos mais brilhantes cavalheiros dos salões fluminenses”.

        Julieta - É a falecida esposa do Hermano. Enquanto viva, era uma moça pobre, de cabelos negros. Muito linda e atraente aos olhos de Hermano, mas não tão bela assim na verdade. Tinha muito talento com o canto, e enquanto viveu, seu casamento foi só felicidades. Ela e o marido eram muito apaixonados, tanto que fizeram um pacto de amor eterno.

Resumo do livro

          Hermano era casado com Julieta, eles viviam numa chácara, vizinha à de Amália, uma vida feliz, formavam um casal perfeito, até que ela morreu durante um aborto. Hermano fica inconsolável, obcecado pelas lembranças de Julieta. Seu criado, o Abreu, pai de criação de Julieta, o ajuda a manter as coisas da falecida esposa intactas, como se ela ainda estivesse entre eles. Hermano acredita que o espírito de Julieta ainda está com ele, e que só o corpo, que é matéria perecível, é que morreu e foi enterrado. Muitos o consideram louco.
          O Doutor Henrique Teixeira, amigo de Hermano, havia o levado à Paris para tentar ajudá-lo a superar a perda da mulher amada, mas não obteve grandes resultados. O Doutor se lembrava como o amigo era quando jovem, alegre e elegante, e se preocupava com o estado mental dele agora. Ao retornar à chácara, Hermano age como se vivesse ainda com a esposa, servindo o prato dela nas refeições, tomando chá com ela, enfim, vivendo uma vida com a morta.
           Amália começa a prestar atenção nas atitudes do vizinho, e em uma festa, o Doutor Henrique Teixeira revela à moça alguns detalhes da vida do amigo. Então, ela começa a bisbilhotar a vida de Hermano, prestando atenção em seus passeios pelo jardim, e ela percebe que ele parece não estar só, pois age como se Julieta estivesse com ele. Ela se lembra que, quando criança, gostava de prestar atenção na chácara vizinha, e que um dia, quando observava o toucador de Julieta pela janela, viu Hermano entrar e beijar a esposa carinhosamente. Então, sua curiosidade e fascinação pela vida do vizinho aumentam. Amália começa a se interessar por Hermano ao admirar sua devoção à alma de Julieta.
         Umas caixas misteriosas chegam à casa de Hermano. Amália resolve bisbilhotar pela janela do toucador da falecida, como quando era criança, e surpreende Hermano com uma mulher. Ela fica indignada ao pensar que ele está traindo a esposa a quem jurou fidelidade eterna. Mas ela acaba querendo conquistá-lo, e recebe a ajuda de Henrique Teixeira.
          Com seu talento musical, Amália começa a atrair Hermano, cantando a música preferida de Julieta. Assim, ela dá início a um jogo onde ela se confunde com Julieta na cabeça de Hermano, e ele se sente apaixonado pelas duas. Ele decide pedir Amália em casamento, mas desiste de última hora, por que se sente culpado por estar traindo a esposa, além de não achar justo com Amália se casar com ela, sendo fiel à falecida. Mas ele volta atrás em sua decisão, e eles ficam noivos. A casa de Hermano começa a ser decorada para receber a futura esposa. Um toucador novo é feito para Amália, no lado oposto ao toucador de Julieta, e com a decoração totalmente contrária. Os aposentos da falecida, porém, ficam intactos, e trancados.
         Enfim eles se casam, mas não consumam a união. Hermano mantém a esposa intocável, virgem. Abreu não obedece às ordens da nova dona da casa, e Hermano muitas vezes se mostra distante, perturbado pelas memórias de Julieta e sentindo que estava a traindo.
          Um dia, Amália consegue entrar nos antigos aposentos de Julieta, e lá encontra uma foto da falecida, junto com outros de seus pertences, e, para sua surpresa, vê estátuas da mulher que fora dona daquele toucador. Foi uma dessas estátuas que ela viu pela janela com Hermano e julgou que ele estivesse traindo a memória de sua amada. Amália também percebe que Julieta não era tão bonita como Hermano via. Ela decide que não pode continuar com aquele casamento, pois não poderia superar a lembrança da outra na vida de Hermano. Propõe a separação para o marido, mas ele nega, porque isso seria uma vergonha para Amália. Ela, porém, desiste da separação, pois ama o marido, então dá continuidade ao jogo de imitar os gestos, penteados e hábitos da esposa morta. Usa até um véu preto para esconder os cabelos loiros.
Hermano enlouquece por sentir que está sendo um traidor, tanto com a falecida quanto com a atual esposa.           A solução que ele encontra para acabar com aquilo sem deixar a esposa mal falada pelo divórcio, é o suicídio. Então, preparou tudo e, certa noite, saiu da festa em que estavam e, chegando em casa, fechou-se nos aposentos de Julieta, abriu um gás e acendeu uma vela.
          Hermano estava pronto para morrer, quando, em meio a um delírio, viu Julieta. Ela lhe dizia que ele não precisava fazer isso, pois ela vivia em Amália para que ele continuasse a amando, que elas eram uma só. Enquanto isso, Amália percebeu a intenção do marido e correu para casa, chegando a tempo de salvá-lo do incêndio.
         O casal se muda para a Europa, e retornam para os escombros da casa incendiada cinco anos depois, com a filha deles que, curiosamente, tinha traços da beleza da mãe, mas os cabelos e olhos castanhos, como Julieta. A menina tinha o nome da falecida.

O título: Encarnação

          Consigo ver três motivos para o livro ter recebido esse nome. Em primeiro lugar, Amália agia como Julieta, tentava encarná-la para poder conquistar Hermano. Cantava a música preferida da falecida como a própria fazia, imitava os gestos, os modos de vestir, e até tentava disfarçar os cabelos loiros. Em segundo, o delírio de Hermano na hora do incêndio, que insinuava que Julieta havia se encarnado em Amália para que ele pudesse continuar a amar a primeira esposa. E por último, a filha do casal que, inexplicavelmente, se parece com Julieta. Isso me induz a pensar que a menina era uma forma de juntar as duas amadas de Hermano em uma pessoa só. Ela era fruto desse amor que ele sentia, e reunia as duas, sendo filha da amada atual e a própria encarnação de Julieta.

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