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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Como não escrevo nada ultimamente, resolvi reler alguns dos textos antigos. Achei uma raridade: um poema. Um trecho de um dos quatro poemas que escrevi em toda minha vida:

" (...)
Vida de sonhos assombrados,
De fantasias desfeitas,
De dúvidas sem explicação.
Onde encontrar o doce
Nessa vida-mar de decepções?"

Sinto falta de inspiração para escrever!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Lágrimas


                Não consegue fugir daquela cara horrenda, sempre sorrindo, com olhos arregalados e injetados de sangue. Fecha os olhos para tentar apagar, mas está ali, estampada em suas pálpebras. A boca arreganhada numa careta desfigurada, o líquido vermelho escorrendo pelo rosto. Então, acorda toda molhada, suando frio, gritando, procurando uma luz. Respira fundo, foi tudo um pesadelo. Mas quando senta na cama, de frente ao espelho, ali estão elas caindo de seus olhos: as lágrimas de sangue.

Ausência


               
         Olhava seu corpo flácido suspenso, balançando no alto, a cabeça tombada, um trapo humano que apenas confirmou a ausência de vida ao pular aquele prédio com a corda no pescoço. Mas será que finalmente encontrara a tão sonhada liberdade? Não, a realidade não mudou tanto assim. Continua se arrastando pelos cantos à procura de descanso, gemendo e sussurrando lamentos, sem, no entanto, ser ouvido pelos pobres mortais que passam por ali. Mas poderia chamar aquela medíocre existência de corpo físico de vida? Não, eu acho que não. Não há um paraíso a nossa espera, afinal.

domingo, 11 de março de 2012

Noite Infernal


            A Cidade dos Anjos ardia em pecados. O vapor quente, que parecia brotar das calçadas, ruas e avenidas, estagnara-se no ambiente, tornando-o abafado. Ninguém conseguia dormir, todos com as almas em chamas. As chamas do inferno que, nessa noite, queimavam e se alastravam nos pobres corações dos pecadores de LA.
            A inquietação aumentava, e nem mesmo as pessoas mais santas conseguiam ficar deitadas em suas camas. O suor escorria por seus rostos e molhava seus pijamas e lençóis. Os poucos santos tentavam rezar para afastar as tentações, mas a maioria sentia o chamado do inferno, não resistindo e se juntando na dança frenética dos pecadores ao diabo.
            Megan abriu a janela do quarto e respirou fundo. Seus cabelos grudavam na pele através do suor e sua boca estava seca. Ela esperou que a brisa da madrugada atingisse sua pele e refrescasse seu corpo, mas tudo o que conseguiu sentir foi o ar quente e seco parado a sua volta, envolvendo-a estranhamente.
            Ela se virou lentamente e deu uns passos na direção da porta, mas parou no meio do quarto e fitou a cama. Lembrou-se das mãos dele percorrendo o corpo dela, dos olhares apaixonados, dos sorrisos carinhosos, da voz rouca dele sussurrando “eu te amo”. Nesse momento, Megan sentiu as bochechas quentes.
            Ela precisou virar o rosto para conter a fúria que essas imagens desencadeavam. Fitou a faca e a cruz que ela havia deixado em cima da mesa e seus olhos brilharam quando ela pegou as duas, uma em cada mão. Não podia suportar a lembrança do seu namorado dizendo aquelas três palavras com todo aquele amor para uma mulher que não fosse ela, ainda mais na sua cama.
XXXX
            Megan usou as chaves que tinha para destrancar a porta do apartamento dele, girou a maçaneta, e avançou silenciosamente pela sala mal iluminada. Parou um pouco e observou de longe a silhueta dele na varanda. Apenas uma sombra, um vulto. Aquele não era o seu Justin, ele agora era um estranho para ela.
            Deu mais alguns passos até parar atrás dele. Sentiu a faca pesar em sua mão. Por um segundo passou em sua mente as imagens dos dois juntos, nos seus melhores momentos. Mas logo em seguida essas imagens foram apagadas pela lembrança das cenas no seu próprio quarto. Ele e a amante, nus, os toques, os olhares, o ‘eu te amo’. Então um pensamento devolveu a ela a segurança que faltava: ele havia talhado uma ferida enorme no coração dela, e merecia receber a mesma coisa em troca.
            Ergueu a faca até a altura da cabeça, a lâmina fria refletindo a luz da lua daquela estranha noite de Los Angeles. Tudo ocorreu em segundos. Justin se virou e a lâmina atravessou seu peito esquerdo. Foi tudo silencioso, ele não teve tempo de soltar o grito que ficou preso em sua garganta. A última cena que Megan registrou foi o olhar apavorado e confuso que ele lhe lançara. Depois disso, ela virou as costas e saiu, levando consigo a faca suja de sangue e a cruz.
XXXX
            A corrente com a cruz pendia do seu pescoço enquanto corria, balançando e batendo em seu peito, deixando sua marca. Era como fogo queimando, lambendo sua pele com as chamas da culpa.
            A cidade permanecia na penumbra. Era como se aquela noite nunca fosse ter um fim. À medida que Megan se afastava das luzes da cidade, sua imagem ia se perdendo no escuro, até que só era visível seu vulto se afastando, com os cabelos que chegavam à cintura cobrindo grande parte do seu rosto.
            Ela só parou de correr quando chegou à capela abandonada que havia a alguns metros fora da estrada e encontrou-se segura em frente ao altar.
            Ajoelhou-se, segurando a cruz com força, até sentir que era impossível apertar mais. Manteve os olhos baixos, até que ouviu os passos de alguém se aproximando.
­            _ Tudo bem senhorita?
            Só agora Megan percebeu que ainda tinha a faca nas mãos. Deixou-a cair, e o objeto perdeu-se nas sombras da capela. Ela se levantou, ainda sem olhar para o rapaz que havia chegado, e manteve-se no mesmo lugar, onde a capela era mais escura.
            _ Sim, eu estou bem. Quem é você?
            _ Sou Matt. Eu estudo no seminário que fica há poucos quilômetros daqui. Costumo vir para essa igrejinha quando estou nervoso ou triste... Noite estranha essa, não?
            Megan deu alguns passos e parou em um lugar um pouco mais iluminado pelo luar.
            _ Nossa, o que houve com sua mão? _ disse Matt, se aproximando um pouco.
            Ela olhou para a mão que estivera segurando a faca e viu que estava suja de sangue. Começou a falar, tomando cuidado para não olhar nos olhos do jovem seminarista.
            _ Eu preciso me confessar. Foi esse cara... Ele partiu meu coração em dois, então eu tive que...
            Megan parou de falar quando olhou nos olhos de Matt. Doces olhos azuis. Onde ela havia visto olhos tão lindos quanto esses? Ela voltou a sentir o corpo queimando, mas dessa vez não era culpa.
            Matt continuou olhando para aquela estranha mulher, e só agora ele percebeu o quanto ela era bonita. Não era uma beleza qualquer, despertara algo nele. Os dois jovens sentiram a mudança no ambiente à medida que a temperatura aumentava e suas respirações se aceleravam.
            _ Nada. Não foi nada. Vamos sair daqui, esse altar me dá arrepios.
            Ao dizer isso, Megan lançou um último olhar ao rapaz e saiu logo em seguida para os fundos da capela onde, antigamente, se encontrava a sacristia. Não precisava se confessar ainda. Não se o que ia fazer agora também era pecado, talvez até maior. Ela não precisou olhar para trás para saber que Matt a seguiu. Nem mesmo um estudante de seminário como ele poderia resistir à tentação de um convite do próprio demônio. 

Inspirado na música Goin' Down - The Pretty Reckless

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Praga do século


           Vendo o velho álbum de fotografias, o triste passado vinha à tona. Olhava o sorriso e o brilho no olhar que eternizaram a alegria de pequenos grandes momentos da adolescência perdida. Não se via mais naquelas fotos. O sorriso sumira e o brilho se apagara. Lembranças trasbordavam em sua mente, e revivia os momentos amargos como se todos acontecessem naquele exato minuto. Permitiu que uma singela lágrima percorresse sua face, para logo depois afogar-se num mar de nostalgia. A mente vagava na data do seu aniversário de 15 anos, há três anos atrás, quando a alegria ainda visitava aquele quarto, já precisando de uma pintura e decoração novas. Radiante, decidiu. Não queria festa, nem baile, e nem presentes era preciso. Só queria entregar-se a ele naquela data mágica. Ao lembrar-se da tragédia, não percebida na tal data mágica, mas que carregaria por toda sua vida, teve um sentimento tão forte que era quase dor física. Uma irresponsabilidade adolescente que podia dar um novo rumo à vida. Como não bastasse, outra vida sofrida poderia ter sido poupada. Pobre Esperança. Contemplava-a no berço, pequena, magra, amaldiçoada antes mesmo de nascer. Lutando para sobreviver. Nos momentos de maior desespero e angústia pensava em tirar-lhe a vida, para que não sofresse mais. Faltava-lhe coragem, e continuava as duas ali, compartilhando o ambiente triste, de preconceitos, de agonia. Não sabiam se viveriam; a cura não havia sido encontrada. Vivendo lado a lado com a morte. Como se a vida se prolongasse para que junto crescesse a dor.

Esse texto também foi escrito por volta de 2008

sábado, 10 de dezembro de 2011

Faces da Vida


       O calor era insuportável. As praias estavam lotadas e o mar estava agitado. O pobre garoto andava com o carrinho, agora já vazio, exausto. Mas a sua família dependia daquele dinheiro das vendas de picolé. Parou um pouco para descansar antes de ir buscar outra remessa dos sorvetes.
      Madeleine o observava. Camiseta e bermuda rasgadas, velhas Havaianas nos pés, já maiores que os chinelos, olhos fechados, corpo deitado na areia e pele torrada pelo sol. A garota não compreendia porque tanta simplicidade e maus tratos. Em seus poucos limites de menina rica não existia a pobreza que o menino vivenciava. Em sua vida de contos de fada não havia espaço para a dura realidade.
      O garoto levantou e saiu, sempre com o carrinho. Madeleine tentava imaginar a tristeza do menino sem shopping, compras, parques. Pobre menina que nem sonhava que o garoto já seria feliz se tivesse a garantia de comida em casa todos os dias.

Texto escrito por mim no ano de 2008

Um conto à Machado de Assis


O amor dos irmãos

            Em uma fração de segundos um sonho dá lugar a um terrível pesadelo. Helena não pode acreditar no que seus olhos veem. Miguel está parado no fim do corredor com os olhos fixos nela e Gustavo, aproximando-se lentamente deles.
            _ Quanto tempo irmão! E como está mudada Helena!
            A princípio Helena não consegue responder. O choque ao ver o sorriso de Miguel a paralisa, em parte pela ironia e o cinismo dele ao conversar com o irmão depois de dez anos brigado com a família, e por perceber que seu lindo sorriso desperta nela o mesmo fascínio da época em que eram namorados.
            Gustavo levanta empurrando a cadeira abruptamente e sai sem nada dizer, tanto era sua raiva. Helena continua boquiaberta. Sem saber ao certo o que fazer, ela levanta-se e fita Miguel, incrédula ao vê-lo deixar um bilhete em sua mão e sair.
            Helena sente-se fraca. Necessita de alguns minutos para se recompor e criar coragem para abrir o bilhete. Seu coração dispara ao pensar que seu marido, Gustavo, pode voltar a qualquer momento. Enfim, abre o bilhete com as mãos trêmulas e lê:
“Encontre-me no nosso antigo lugar – em nome dos bons velhos tempos.
Ao crepúsculo de amanhã.
                                            Miguel.”
            Helena parte o bilhete em mil pedaços e vai procurar o marido. Depois de acalmá-lo, ela queixa-se de uma forte enxaqueca e vai deitar-se. A noite é inquieta, interminável, com Miguel dominando seus pensamentos.
            O crepúsculo se aproxima e cresce a incerteza de Helena. Um turbilhão de emoções invade seu corpo: medo, culpa, desejo. Durante todos aqueles anos, após Miguel ter brigado com todos e abandonado a família, deixando-a também, ela passou a crer que amava Gustavo e que não se casara com ele apenas por pressão familiar. Mas depois de rever Miguel e ler o bilhete, Helena já não tem essa certeza. Fazia-se crer que amava o marido, mas sente-se excitada e atraída pelo encontro com a antiga paixão.
            Era agora ou nunca! Helena pega sua bolsa, sai e quando percebe, está à sombra do carvalho em que costumava passar as tardes ensolaradas e as noites quentes de luar aos beijos com Miguel.
            Mais tarde, ao refletir sobre a loucura cometida, Helena jura a si mesma que aquele encontro fora uma despedida e que seria fiel ao marido. Mas o juramento é em vão. Miguel, perdoado pelo seu pai, passa a frequentar cada vez mais a casa de Gustavo. Esse é contra o perdão concedido a Miguel, mas respeita a decisão de seu velho pai.
            Quando está sozinha com Gustavo, Helena pode afirmar que o ama, mas quando Miguel a visita, perde a razão e a noção do perigo, cedendo aos seus desejos e tornando seus encontros, às escondidas, frequentes e intensos.
            Os ciúmes e a desconfiança consomem Gustavo. Ele sabe que no passado, o coração de sua mulher havia pertencido a Miguel, e se não fosse pela fuga do irmão, eles estariam juntos até hoje. Ele precisa provar para si que estava errado: Helena o ama, e não a seu irmão.
            Muda a direção do carro. Se Helena e Miguel estão juntos, só há um lugar onde pode encontrá-los: o antigo carvalho.
            Gustavo atravessa a rua deserta, na noite gelada. Pára atônito. Tomado pela raiva e o ciúme, aponta a arma, fazendo os amantes estremecerem.
            Dois olhares pasmos voltados para ele! Um estrondo! O curto silêncio! O choro desesperado da amante...

Clarisse Gomes e Renata Mendonça
                            1ª série do Ensino Médio de 2010 – Colégio Cenecista Nossa Senhora de Fátima

sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre mim

           "Eu sou quem você vê hoje. Essa menina que sorri pra tudo e todos, mas que é silenciosa mesmo que você a veja falando por muito tempo. Posso dizer que engano as pessoas todos os dias, não por maldade, mas por segurança… consigo fazer com que pensem que está tudo bem, mas não pense que isso me deixa bem, pelo contrário. Dói, mas não há o que se fazer. Uma vez ou outra, me abro e deixo escapar algumas palavras, mas nem todas… isso pode ser perigoso demais. De noite, choro e me reviro na cama tentando entender várias coisas, depois percebo que não basta entender, é preciso resolver… desisto."