O amor dos irmãos
Em uma fração de segundos um sonho dá lugar a um terrível pesadelo.
Helena não pode acreditar no que seus olhos veem. Miguel está parado no fim do
corredor com os olhos fixos nela e Gustavo, aproximando-se lentamente deles.
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Quanto tempo irmão! E como está mudada Helena!
A
princípio Helena não consegue responder. O choque ao ver o sorriso de Miguel a
paralisa, em parte pela ironia e o cinismo dele ao conversar com o irmão depois
de dez anos brigado com a família, e por perceber que seu lindo sorriso
desperta nela o mesmo fascínio da época em que eram namorados.
Gustavo
levanta empurrando a cadeira abruptamente e sai sem nada dizer, tanto era sua
raiva. Helena continua boquiaberta. Sem saber ao certo o que fazer, ela
levanta-se e fita Miguel, incrédula ao vê-lo deixar um bilhete em sua mão e
sair.
Helena
sente-se fraca. Necessita de alguns minutos para se recompor e criar coragem
para abrir o bilhete. Seu coração dispara ao pensar que seu marido, Gustavo,
pode voltar a qualquer momento. Enfim, abre o bilhete com as mãos trêmulas e lê:
“Encontre-me no nosso
antigo lugar – em nome dos bons velhos tempos.
Ao crepúsculo de
amanhã.
Miguel.”
Helena
parte o bilhete em mil pedaços e vai procurar o marido. Depois de acalmá-lo,
ela queixa-se de uma forte enxaqueca e vai deitar-se. A noite é inquieta, interminável,
com Miguel dominando seus pensamentos.
O
crepúsculo se aproxima e cresce a incerteza de Helena. Um turbilhão de emoções
invade seu corpo: medo, culpa, desejo. Durante todos aqueles anos, após Miguel
ter brigado com todos e abandonado a família, deixando-a também, ela passou a
crer que amava Gustavo e que não se casara com ele apenas por pressão familiar.
Mas depois de rever Miguel e ler o bilhete, Helena já não tem essa certeza.
Fazia-se crer que amava o marido, mas sente-se excitada e atraída pelo encontro
com a antiga paixão.
Era
agora ou nunca! Helena pega sua bolsa, sai e quando percebe, está à sombra do
carvalho em que costumava passar as tardes ensolaradas e as noites quentes de
luar aos beijos com Miguel.
Mais
tarde, ao refletir sobre a loucura cometida, Helena jura a si mesma que aquele
encontro fora uma despedida e que seria fiel ao marido. Mas o juramento é em
vão. Miguel, perdoado pelo seu pai, passa a frequentar cada vez mais a casa de
Gustavo. Esse é contra o perdão concedido a Miguel, mas respeita a decisão de
seu velho pai.
Quando
está sozinha com Gustavo, Helena pode afirmar que o ama, mas quando Miguel a
visita, perde a razão e a noção do perigo, cedendo aos seus desejos e tornando
seus encontros, às escondidas, frequentes e intensos.
Os
ciúmes e a desconfiança consomem Gustavo. Ele sabe que no passado, o coração de
sua mulher havia pertencido a Miguel, e se não fosse pela fuga do irmão, eles
estariam juntos até hoje. Ele precisa provar para si que estava errado: Helena
o ama, e não a seu irmão.
Muda
a direção do carro. Se Helena e Miguel estão juntos, só há um lugar onde pode
encontrá-los: o antigo carvalho.
Gustavo
atravessa a rua deserta, na noite gelada. Pára atônito. Tomado pela raiva e o
ciúme, aponta a arma, fazendo os amantes estremecerem.
Dois
olhares pasmos voltados para ele! Um estrondo! O curto silêncio! O choro
desesperado da amante...
Clarisse Gomes e Renata Mendonça
1ª série do Ensino Médio de 2010 – Colégio Cenecista Nossa Senhora de Fátima