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quinta-feira, 24 de março de 2011

Vingança: o preço da mentira


          Ela entrou na sala com a cabeça erguida e o olhar desafiador. Disfarçava o sorriso cruel que nascia em seus lábios. Caminhou lentamente até o marido, deliciando-se ao máximo com a vingança que praticava.
          Encarou-o, mantendo seu olhar duro e frio:
          _Olha o presente que você me comprou amor.
        Enquanto falava, mostrava a mão direita, onde brilhava um enorme e brilhante anel no dedo médio.  Sorria amargamente por dentro ao ver a incredulidade do marido diante da situação, enquanto disfarçava o contentamento com um sorrisinho cínico.
          _ Maysa, quanto custou esse presentinho?
          _ Ah, foi caro. Muito caro. Não tenho coragem nem de falar.
          Maysa podia ver que o marido estava prestes a explodir de raiva. A vingança saía melhor (ou pior) do que esperava.
          _ Caro quanto Maysa? Você não pode sair comprando jóias caríssimas sem me avisar antes.
        “Claro que posso”, ela pensou, enquanto respondia em voz alta, arqueando as sobrancelhas como quem se justifica, se desculpando. Mas não era esse o caso, pois ela não sentia muito. Pelo contrário, aquela expressão era pura atuação.
        _ Oh, mas eu tentei te avisar Lucas _ disse ela, irônica._ Eu liguei no seu escritório, mas você não estava.
          Ela voltou a olhá-lo desafiadoramente, deleitando-se com sua expressão resignada.
         Lucas tinha vontade de gritar acusando-a de ser a culpada por sua filha estar passando por problemas e pelo aparente fracasso do seu casamento, mas não podia fazer isso enquanto mentia para ela. Suspirou, e vendo que não adiantaria discutir, disse com a voz cansada:
           _ Eu estava em uma reunião Maysa. Mas não faça isso de novo.
          _ Eu mereço o presente, não acha?
         Maysa subiu as escadas pomposamente, da mesa forma que entrara na sala. Só quando estava fora da vista de Lucas é que permitiu que a cena da tarde se repetisse em sua mente, fazendo-a estremecer num misto de raiva e tristeza.

         Estava no shopping quando avistou o marido ao longe com uma loira alta. Sentiu o coração gelar. Seu casamento sempre fora uma mentira, e ela sabia que só não havia se acabado oficialmente porque ficara grávida. Recusou o conselho da amiga de ir atrás dele para pegá-lo no flagra com a amante. Controlou a voz e disse: “Cansei-me de chorar pelo Lucas. Se não quero me vingar? Claro que sim. Só que agora transformo minha tristeza em jóias, e minhas lágrimas, em diamantes”.

         Executara a vingança com toda a frieza que conseguira reunir, divertindo-se intimamente. Mas mentira para si mesma. Apesar do diamante espetacular que exibia no dedo, agora que se encontrava sozinha em seu quarto, seus olhos encharcavam-se de lágrimas, que escorriam pelo rosto enquanto a tristeza tomava-lhe o coração.

Texto baseado em cena da novela "O Clone".

segunda-feira, 14 de março de 2011

A vida


          "A vida, como boa alma feminina, é complicada, sem razões, com queixas, sem soluções, com temores; é valente, determinada, mas vulnerável. A vida é bela, é frágil, mas nunca débil; é forte, mas não é insensível.
             A vida segue seu caminho, mas nunca esquece. Fecha muitas portas, mas ensina muitos caminhos.  A vida dá muitos golpes, mas sabe quando parar. A vida tem muitos desejos, mas não confunde o prazer com o amor. A vida não faz promessas que não vai poder cumprir, mas vai dar esperanças para que você lute pelo seu sonho. A vida apresenta obstáculos para que você pare para observar o horizonte nos momentos mais difíceis. A vida é amarga, mas tem momentos de doçura. A vida é selvagem, mas jamais ataca os seus. A vida é para ser vivida, não para ser julgada. A vida é ela mesma, não pretende ser diferente, depende de você como quiser vê-la, saboreá-la e vivê-la."
Dulce María

Livro Dulce Amargo, página 51

quinta-feira, 10 de março de 2011

Desabafo

“Estranho é você acordar todos os dias com vontade de mudar a sua vida, e acabar fazendo a mesma merda de sempre.”

Eu estava agora mesmo escrevendo sobre como ando sem inspiração ultimamente, e me indagando o que havia de errado, pois nada havia mudado. E então eu vi essa frase em algum site. É exatamente o que penso e o que sinto agora, todos os dias, é exatamente a frustração que vem me perseguindo. Venho fazendo tudo no automático, e às vezes bate um medo de passar pela vida sem realmente vivê-la intensamente. Mentalizo todos os dias que vou mudar completamente minha rotina, eliminar meus maus hábitos, fazer aquilo que sempre tive vontade, mas que por alguma idiotice qualquer nunca fiz, que vou prestar mais atenção e valorizar aquelas pequenas coisas do dia a dia que me fazem felizes, ao invés de reclamar tanto daquilo que é inevitável na minha vida. Mas por algum motivo, ou não, eu sempre chego ao fim do dia e percebo que fiz a mesma merda de sempre. Será que não sou capaz de dar o rumo que eu quero para minha própria vida? Sinto-me tão perdida às vezes, sem saber por onde começar, sem forças para lutar, que acabo ficando na mesma. E me desespero quando percebo que isso virou um ciclo e que, se continuar assim, aquele “amanhã” que eu prometi ser diferente nunca vai chegar. E talvez quando eu decidir que é hora de tomar uma iniciativa, possa ser tarde demais.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fantasma


A tempestade cai furiosamente. Os tons negros e cinzas dominam o céu, tirando a lua e as estrelas do meu campo de visão. A rua deserta perde-se na escuridão, a não ser pelos breves segundos em que os raios rasgam o céu estrondosamente.
Se alguém ousasse observar através da janela como eu faço agora, provavelmente me consideraria uma alma perdida nessa casa considerada mal assombrada, um vulto triste e solitário, apenas uma sombra vagando pelo mundo dos vivos. Essa ideia não está longe de ser verdade. Eu não sou um fantasma nem algo parecido, mas vago sozinha por essa casa há alguns anos, e já não me lembro como é caminhar pelas ruas em um dia de sol. Nesses raros dias em que a luz solar brilha no céu sem nuvens e traz um pouco de alegria e movimento às ruas da cidade, eu me tranco no quarto escuro do último andar, onde nem mesmo em um dia assim as trevas dão lugar àquela luz brilhante que há lá fora.
Mas nos dia normais, como nessa noite, em que o caos da tempestade domina a cidade, eu fico aqui nessa janela do térreo, de uma forma que, quem olha lá de fora, realmente vê uma alma atormentada e perdida em um mundo obscuro qualquer.

terça-feira, 1 de março de 2011

Curtição! Ou será confusão?


O carnaval em Abaeté está cada vez mais famoso em todo o país. Nessa época a cidade muda sua rotina, preparando-se para receber as centenas de pessoas e para promover esse grande evento. Só se fala em carnaval, pois as expectativas dos habitantes da cidade são grandes. Alegria, animação, muita música e dança, além de progresso e lucro para a cidade, são presenças fortes no Abaeté Folia.
Mas nem tudo é festa. Muitas vezes não há limites entre a boa música e a poluição sonora, entre a liberdade e a libertinagem, entre a brincadeira e o desrespeito, entre a curtição e a confusão.
Ainda há muito que melhorar para que o nosso carnaval possa agradar a todos, promovendo paz e felicidade, que é como essa festa deve ser.