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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O vazio


Eu não tenho controle sobre mim. Não sou forte o suficiente. Sinto-me fraca. A qualquer momento algo terrível acontecerá. A verdade é que tudo já aconteceu sem que eu fosse capaz de agir, mas eu não quero enxergar. “Eu quero morrer” é o que quero dizer, mas não é realmente o que quero que aconteça. É claro que viver em paz seria perfeito para mim. Mas tudo que vejo é aquele enorme buraco negro devorando tudo em que tento agarrar-me. Toda a esperança. O que resta são as lágrimas, os pesadelos, o medo, o grande ódio que irradia de mim hoje. Depois, tudo isso é dissolvido e transformado num grande vazio que me consome por dentro. Esse terrível vazio que me sufoca, me esmaga, empurrando-me para o fundo de um poço sujo e frio, de onde grito desesperadamente por socorro. Ninguém parece ouvir meus apelos.

Escrevi esse texto no ano de 2010. Encontrei-o hoje numa amassada folha de caderno e resolvi postá-lo aqui.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

I'm crazy


"...pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam, e jamais falam chavões, mas queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante -pop!- pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos "aaaaaaah!"."
Jack Kerouac

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Despertar

Escrevi esse texto dando continuidade àquele sonho do post anterior “Fome”. Criei uma personagem, Isabel, que tem uma vida muito diferente da minha, e imaginei como seria para ela quando acordasse depois daquele sonho. Quem ainda não leu, leia "Fome" no post anterior antes de ler “O Despertar”.



Um grito perturbador ecoou em meus ouvidos. Meus olhos focalizaram uma fraca luz irradiando através das cortinas, e finalmente a compreensão chegou a mim. Eu estava no quarto da pensão. Nunca o tinha deixado ou estado numa floresta imensa. Havia sido um sonho, ou melhor, um pesadelo bem real.
Ergui o corpo lentamente, esperando que a tontura passasse. Arrastei-me para a poltrona e me joguei ali, sem a mínima vontade de me mexer. Uma rápida olhada no espelho me mostrou meu rosto inchado pelo sono, a maquiagem da outra noite borrada nas pálpebras, o cabelo emaranhado e sujo, os olhos com um brilho incomum e ainda injetados pela adrenalina liberada pelo meu estranho pesadelo.
Respirei fundo, numa tentativa inútil de aquietar as batidas desordenadas do meu coração. Repeti o exercício algumas vezes, até que desisti, acendendo um cigarro. Dou uma longa tragada, sentindo a nicotina se espalhar por meu organismo. Sinto o efeito familiar que ela causa em mim, e enfim, consigo relaxar os músculos. Expiro a fumaça de meus pulmões e novamente olho para meu reflexo no espelho. O que eu via combinava com a atmosfera daquele lugar. Parecia nunca haver luz o suficiente ali dentro, apesar de haver sol lá fora, as paredes eram úmidas, como se houvesse chuva constante. O ar era abafado e o teto baixo, o que criava uma atmosfera decadente e claustrofóbica.

ps. Eu não fumo, e como eu, ninguém deve fazer isso, pois o cigarro é prejudicial à saúde. Esse texto é apenas ficção, na vida real, fumar com qualquer finalidade não é uma boa idéia.