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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eterna Subida


Hoje é o dia ideal para subir minha montanha. Como qualquer outro, aliás. Não há dia ruim para sentir a adrenalina correndo por minhas veias, o sangue sendo bombeado depressa, o coração acelerado, o vento batendo contra o rosto, o suor descendo pela face, tudo isso indicando uma explosão de vida dentro de mim. Mas eu não subo a montanha porque estou viva. Eu vivo porque sei que haverá o amanhã para novamente subi-la.
É por isso que, quando estou em casa, sinto um buraco se abrir no peito, uma angústia crescente que aperta o coração. É como receber pontadas de faca a cada segundo. Mas continuo aqui, pois sei que amanhã chegarei de novo ao topo da montanha. Sim, porque o melhor se encontra no topo. É quando chego lá que a subida é recompensada.
Mas nem por isso a subida é a pior parte. De jeito nenhum. A sensação de alívio a cada centímetro que subo e sinto que estou mais perto do alto só acrescenta perfeição ao momento final.
Começo a subir. Encho de ar os pulmões e sinto a emoção jorrar para todos os lados. Sim, com certeza a subida me revigora! Tento acelerar, mas me atrapalho com a pressa. Parece uma eternidade! Arfando, tento manter o ritmo, mas a sede é grande. O vento seca ainda mais a boca. A ardência chega até a garganta. Tento umedecer os lábios com a língua, mas parece que toda a água do meu corpo secou com o esforço. Agora a sede é quase insuportável. O dia está quente e a saudade me mata. Respiro fundo, agora falta pouco. Já consigo ver o além da montanha despontando no horizonte. A sede já não é vital. Pelo menos não a sede de água.
Ele vem ao meu encontro. O sorriso de orelha a orelha, os olhos brilhando, minhas feições exatamente iguais as dele. Nossos corpos se colam e sinto suas mãos apertadas em minha cintura, enquanto entrelaço minhas mãos em sua nuca.
Seu beijo enche de vida de novo os lábios a pouco ressecados, matando a sede que me enlouquecia mais que a sede da água propriamente dita. A sede que sentia de teu ser, de teus lábios, de teu calor.
É depois que ele abranda essa sede que me consumia e a saudade que dilacerava meu coração, é que eu olho para baixo e vejo o grande morro que subo todas as manhãs, que é transformado em montanha pela saudade e é quando o tempo acelera e toda aquela eternidade da subida volta a ser o que realmente é... Apenas alguns minutos.
Mas nem a “eternidade” ao seu lado é capaz de aquietar meu coração quando temos que nos afastar novamente. Espero inquieta a próxima subida. Te amo desesperadamente.

2 comentários:

Rosaura Sousa disse...

Perfeito! Sem comentário!

Clarisse disse...

Obrigada, um elogio é sempre uma motivação para escrever mais!

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