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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Praga do século


           Vendo o velho álbum de fotografias, o triste passado vinha à tona. Olhava o sorriso e o brilho no olhar que eternizaram a alegria de pequenos grandes momentos da adolescência perdida. Não se via mais naquelas fotos. O sorriso sumira e o brilho se apagara. Lembranças trasbordavam em sua mente, e revivia os momentos amargos como se todos acontecessem naquele exato minuto. Permitiu que uma singela lágrima percorresse sua face, para logo depois afogar-se num mar de nostalgia. A mente vagava na data do seu aniversário de 15 anos, há três anos atrás, quando a alegria ainda visitava aquele quarto, já precisando de uma pintura e decoração novas. Radiante, decidiu. Não queria festa, nem baile, e nem presentes era preciso. Só queria entregar-se a ele naquela data mágica. Ao lembrar-se da tragédia, não percebida na tal data mágica, mas que carregaria por toda sua vida, teve um sentimento tão forte que era quase dor física. Uma irresponsabilidade adolescente que podia dar um novo rumo à vida. Como não bastasse, outra vida sofrida poderia ter sido poupada. Pobre Esperança. Contemplava-a no berço, pequena, magra, amaldiçoada antes mesmo de nascer. Lutando para sobreviver. Nos momentos de maior desespero e angústia pensava em tirar-lhe a vida, para que não sofresse mais. Faltava-lhe coragem, e continuava as duas ali, compartilhando o ambiente triste, de preconceitos, de agonia. Não sabiam se viveriam; a cura não havia sido encontrada. Vivendo lado a lado com a morte. Como se a vida se prolongasse para que junto crescesse a dor.

Esse texto também foi escrito por volta de 2008