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sábado, 10 de dezembro de 2011

Faces da Vida


       O calor era insuportável. As praias estavam lotadas e o mar estava agitado. O pobre garoto andava com o carrinho, agora já vazio, exausto. Mas a sua família dependia daquele dinheiro das vendas de picolé. Parou um pouco para descansar antes de ir buscar outra remessa dos sorvetes.
      Madeleine o observava. Camiseta e bermuda rasgadas, velhas Havaianas nos pés, já maiores que os chinelos, olhos fechados, corpo deitado na areia e pele torrada pelo sol. A garota não compreendia porque tanta simplicidade e maus tratos. Em seus poucos limites de menina rica não existia a pobreza que o menino vivenciava. Em sua vida de contos de fada não havia espaço para a dura realidade.
      O garoto levantou e saiu, sempre com o carrinho. Madeleine tentava imaginar a tristeza do menino sem shopping, compras, parques. Pobre menina que nem sonhava que o garoto já seria feliz se tivesse a garantia de comida em casa todos os dias.

Texto escrito por mim no ano de 2008

Um conto à Machado de Assis


O amor dos irmãos

            Em uma fração de segundos um sonho dá lugar a um terrível pesadelo. Helena não pode acreditar no que seus olhos veem. Miguel está parado no fim do corredor com os olhos fixos nela e Gustavo, aproximando-se lentamente deles.
            _ Quanto tempo irmão! E como está mudada Helena!
            A princípio Helena não consegue responder. O choque ao ver o sorriso de Miguel a paralisa, em parte pela ironia e o cinismo dele ao conversar com o irmão depois de dez anos brigado com a família, e por perceber que seu lindo sorriso desperta nela o mesmo fascínio da época em que eram namorados.
            Gustavo levanta empurrando a cadeira abruptamente e sai sem nada dizer, tanto era sua raiva. Helena continua boquiaberta. Sem saber ao certo o que fazer, ela levanta-se e fita Miguel, incrédula ao vê-lo deixar um bilhete em sua mão e sair.
            Helena sente-se fraca. Necessita de alguns minutos para se recompor e criar coragem para abrir o bilhete. Seu coração dispara ao pensar que seu marido, Gustavo, pode voltar a qualquer momento. Enfim, abre o bilhete com as mãos trêmulas e lê:
“Encontre-me no nosso antigo lugar – em nome dos bons velhos tempos.
Ao crepúsculo de amanhã.
                                            Miguel.”
            Helena parte o bilhete em mil pedaços e vai procurar o marido. Depois de acalmá-lo, ela queixa-se de uma forte enxaqueca e vai deitar-se. A noite é inquieta, interminável, com Miguel dominando seus pensamentos.
            O crepúsculo se aproxima e cresce a incerteza de Helena. Um turbilhão de emoções invade seu corpo: medo, culpa, desejo. Durante todos aqueles anos, após Miguel ter brigado com todos e abandonado a família, deixando-a também, ela passou a crer que amava Gustavo e que não se casara com ele apenas por pressão familiar. Mas depois de rever Miguel e ler o bilhete, Helena já não tem essa certeza. Fazia-se crer que amava o marido, mas sente-se excitada e atraída pelo encontro com a antiga paixão.
            Era agora ou nunca! Helena pega sua bolsa, sai e quando percebe, está à sombra do carvalho em que costumava passar as tardes ensolaradas e as noites quentes de luar aos beijos com Miguel.
            Mais tarde, ao refletir sobre a loucura cometida, Helena jura a si mesma que aquele encontro fora uma despedida e que seria fiel ao marido. Mas o juramento é em vão. Miguel, perdoado pelo seu pai, passa a frequentar cada vez mais a casa de Gustavo. Esse é contra o perdão concedido a Miguel, mas respeita a decisão de seu velho pai.
            Quando está sozinha com Gustavo, Helena pode afirmar que o ama, mas quando Miguel a visita, perde a razão e a noção do perigo, cedendo aos seus desejos e tornando seus encontros, às escondidas, frequentes e intensos.
            Os ciúmes e a desconfiança consomem Gustavo. Ele sabe que no passado, o coração de sua mulher havia pertencido a Miguel, e se não fosse pela fuga do irmão, eles estariam juntos até hoje. Ele precisa provar para si que estava errado: Helena o ama, e não a seu irmão.
            Muda a direção do carro. Se Helena e Miguel estão juntos, só há um lugar onde pode encontrá-los: o antigo carvalho.
            Gustavo atravessa a rua deserta, na noite gelada. Pára atônito. Tomado pela raiva e o ciúme, aponta a arma, fazendo os amantes estremecerem.
            Dois olhares pasmos voltados para ele! Um estrondo! O curto silêncio! O choro desesperado da amante...

Clarisse Gomes e Renata Mendonça
                            1ª série do Ensino Médio de 2010 – Colégio Cenecista Nossa Senhora de Fátima